Evangelho do dia - Mc 8, 27-33 - Reflexão do Pe. José Erinaldo
Naquele tempo: 27Jesus
partiu com seus discípulos para os povoados de Cesaréia de Filipe. No caminho
perguntou aos discípulos: 'Quem dizem os homens que eu sou?' 28Eles responderam: 'Alguns
dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos
profetas.' 29Então ele
perguntou: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' Pedro respondeu: 'Tu és o Messias.'
30Jesus proibiu-lhes
severamente de falar a alguém a seu respeito. 31Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho
do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos
sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto, e ressuscitar depois de três
dias. 32Ele dizia isso
abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33Jesus voltou-se, olhou
para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: 'Vai para longe de mim,
Satanás!' Tu não pensas como Deus, e sim como os homens.'
Reflexão:
1. "Quem sou eu segundo o que dizem por aí"? Certamente a resposta não condiz com a realidade mesma de Jesus. No entanto, ela revela algo muito verdadeiro: Jesus está na linha dos profetas, como um dos grandes homens da Sagrada Escritura, alguém que de fato faz a vontade de Deus. Se bem que, apesar disso, não se diz o que seja verdadeiramente Jesus. Não há no que dizem uma resposta segura sobre a identidade do Mestre de Nazaré. Hoje, se essa pergunta for feita, muitos dirão tudo o que contraria a realidade mesma do Salvador. Esse é o campo da opinião pública, de quem ainda não encontrou nenhum motivo para seguir o Mestre, que ainda não conseguiu largar os seus próprios interesses e que segue sua vida de acordo com as acomodações que o dia-a-dia lhe oferece. A resposta vaga indica indiferença, desinteresse, preocupações outras, entre outras coisas. No mundo de quem busca a si mesmo não existe interesse pela realidade de um Messias Salvador; numa realidade de pura vaidade, não encontra abrigo quem faz de si uma entrega total; num ambiente de apego a tudo, somente as trevas interessam, infelizmente. Pessoas dessa realidade não sabem dizer nada sobre Jesus, mas tão somente o que lhes vem na testa, podendo até mesmo ser respostas humilhantes e depravadas, contrárias à sua dignidade.
2. "E vós, quem dizeis que sou eu"? A pergunta agora não é mais dirigida à opinião pública, mas a cada discípulo, a quem O segue, a quem convive com Ele, ouve Seus ensinamentos, presencia Seus milagres, Sua acolhida, Sua autoridade tanto no falar quanto no agir. A pergunta é clara e não requer uma definição. Não se trata de questão filosófico-científica, mas fiducial. Jesus não quer saber quem Ele é segundo os ditames da razão. Exigindo fé, sua pergunta requer uma resposta de adesão. Antes de tudo, os discípulos são colocados numa posição tal que suas respostas revelarão se entenderam mesmo quem é Jesus segundo o pensamento de Deus ou, então, ainda continuam com a mesma mentalidade do mundo judaico, numa expectativa formada pela sede de dominação política. Talvez a resposta dos discípulos ainda não esteja suficientemente madura, quer dizer, do jeito como Jesus gostaria que estivesse. Dizer quem é Jesus como resposta definitiva exige, antes de tudo, revelação divina e, da parte do homem, uma tremenda consciência iluminada pela morte e ressurreição do próprio Jesus.
3. Pedro responde que Jesus é o Messias de Deus. A resposta de Pedro, própria de todos os discípulos, não é ainda uma revelação do significado de Messias depois da Páscoa. Aqui, Pedro comunga ainda do ideal messiânico do povo e de todo Israel. É bem verdade que, conforme Mateus, foi o Pai quem revelou tal verdade, mas Pedro ainda estava cheio de si. Ele e os demais discípulos esperavam um messias político-religioso, que assumiria a dinastia davídica. Jesus aceitou o título messiânico, mas não com esse significado e sim como aquele desenvolvido nos cânticos do Servo sofredor de Is (42, 49, 50 e 53). Como Messias Servo, Jesus será o inverso do poder mundano, não fará nada para si, mas entregará sua vida pela salvação de todos. Ele tem consciência de que sofrerá a morte e ressuscitará no terceiro dia. Será perseguido, humilhado, rejeitado, morto e ressuscitado. Sua entrega total, passando pela morte, é necessária para a libertação da humanidade.
4. Os discípulos são convidados a aderirem a Jesus Cristo de modo total, sem medo de abraçarem a morte por causa DELE. A adesão deve ser radical. O Satanás quer espantar implantando o medo, a dúvida, a indecisão, a ideia de loucura e, finalmente, plantar no coração dos homens a mesma lógica de poder do mundo, os mesmos ditames racionais, o sonho ilusório de que a política resolve os problemas, de que somente governos fortes trarão benefícios para a população. O inimigo prega um messias na lógica do poder e procura eliminar a lógica do amor oblativo, da entrega de si pelo bem de todos. Pedro mostra que, como todos os demais, ainda está cheio dos ideais mundanos e que necessita descobrir mais profundamente a identidade de Seu Mestre, o que ocorrerá somente com a Ressurreição de Jesus. Pedro não sabia o que estava dizendo quando queria impedir que Jesus caísse nas mãos dos líderes de Israel. Ele repreende Jesus com violência, pois não admite um messias perseguido, humilhado, fraco, incapaz de vencer os poderosos de sua época. De fato, faltava-lhe o pentecostes e a morte de si mesmo. Era preciso largar o que acreditava como certo e abraçar para sempre a vontade de Deus.
5. Jesus responde a Pedro, repreendendo-o com vigor, pondo-o no seu lugar de discípulo, à distância, quebrando-o por dentro e dando-lhe uma nova chance de se repensar na sua condição de seguidor de Jesus. O Mestre de Nazaré não quer o poder do mundo, na forma de pensar de uma humanidade em decadência, onde só tem direitos quem pode, e são valorizados os que roubam, matam e determinam a massificação da maioria desorientada, seguidora de ideias anti-humanas e enriquecedora de castas abrasadas no fogo do inferno. Diante de Jesus está um governo corrompido, explorador e assassino. Tanto Roma quanto Israel estão sob o domínio do Mal. O Sinédrio, governo de Israel, formado por ANCIÃOS, SUMO SACERDOTES e DOUTORES DA LEI, agem contrário à vontade de Deus em benefício próprio. Os anciãos são os donos do dinheiro; os sumo-sacerdotes são os donos do poder; e os doutores da Lei são os donos do conhecimento. Então tudo está nas mãos deles, e o povo de Deus, a maioria na miséria, existindo apenas como “massa de manobra”, vivendo do “pão-e-circo”, mantendo quadrilhas no poder. Jesus sabia que esses poderosos iriam matá-lo e que fariam a mesma coisa com os seus discípulos.
6. Quer ser discípulo de Jesus? Então se prepare. O mundo odiou e continua odiando Jesus, e vai agir do mesmo jeito com você. As quadrilhas governamentais continuam decidindo a sorte material dos seguidores de Jesus, isto é, de sua Igreja. Tais figuras não suportam os ensinamentos do Salvador. O verbo amar não se encontra no dicionário de quem pensa em si mesmo, muito menos amar do jeito de Jesus, fazendo de sua vida um dom para o bem do outro. Os detentores de ideologias também fazem seguidores, que se misturam com o povo de Deus, justificando sempre o poder manipulador ao ponto de cegar um número grande de pessoas de bem. Quantos no meio de nós não já se encontram corrompidos com ideias materialistas, comunistas, desumanas, totalmente desfiguradas e distantes da realidade pensada por Deus? Quantos não só pensam no mundo aqui e agora e desprezam a vida eterna? Quantos só valorizam o prazer mundano e já não se importam mais com a Palavra de Deus? Se não nos tornamos verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, vamos todos pro fundo do poço. A humanidade inteira caminha na direção do “filho pródigo”. Se quer ser discípulo ou discípula de Jesus, então RENUNCIA A SI MESMO (A), isto é, as próprias ambições; TOME SUA CRUZ, quer dizer: não tema a perseguição e até mesmo a morte; e SIGA somente a Jesus Cristo, isto é, não tema ser eliminado (a) da sociedade, ou mesmo perder sua vida.
7. O mundo não nos ama. Não devemos ter conluio com ele. Não pode haver amizade entre um discípulo e as ideias mundanas. Devemos estar no mundo, agir nele, procurar sempre manter-nos diante de Deus e firmes no propósito evangelizador e na prática do bem, contribuindo para a libertação dos mais desamparados, de todos aqueles necessitados de qualquer coisa que podemos realizar segundo a vontade de Deus. O mundo mente, calunia e ridiculariza a nossa vida de fé. Não temamos. Não tenhamos ideologias, concepções contrárias ao Evangelho; não admitamos nada que seja desfavorável à nossa intimidade com Deus e com a prática da fé. Jamais abracemos uma forma de “fé” de gabinete, indiferente aos pequeninos do Senhor. Sejamos firmes, fortes e decididos no que amamos, cremos e professamos. Não temamos o mundo. Antes, temamos ofender a Deus, desobedecer-lhe e não fazermos o bem. Sejamos firmes no conhecimento de Jesus e o aprofundemos sempre mais. Que a oração seja constante no nosso dia-a-dia; que o amor seja nossa condição de vida; que a verdade seja o que buscamor viver; que jamais deixemos de escolher Jesus Cristo, o Vivo; que todo o nosso ser seja a transparência de Deus por onde andarmos.
Um forte e carinhoso abraço.
Padre José Erinaldo
Padre José Erinaldo Ferreira de Lima
Pároco da paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Mangabeira, zona norte do Recife. Natural de Canhotinho, Pernambuco.
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